sexta-feira, 5 de junho de 2015

João Teixeira de Medeiros (poeta popular)


Busto de João Teixeira de Medeiros em Heritage State Park, Fall River.



MONÓLOGO DO RELÓGIO

Não há no meu tic tac
Vislumbres, hipocrisia
Cada tic traz um tac
Cada tac uma agonia

Tudo a tempo se renova
Nos movimentos que exerço.
Cada tic abre uma cova
Cada tac traz um berço.

Num tic nasce uma mágoa
Num tac morre um prazer.
Cada tic é gota de água
Sobre uma face a correr.

Por cada tic agitado
Por cada tac abatido
Há sempre mais um pecado
a nascer e a ser vivido.

Tic tac é a minha lida
Tic tac é a minha sorte.
Num tic mete-se a vida
Num tac se encontra a morte.

Com tão cruel tic tac
Com tão funesta medida
Vou roubando ao almanaque
Todos os anos da vida.

Vou medindo em horas cheias
O tempo que não tem fim.
Tenho o coração e as veias
Do tempo dentro de mim.

E nesta pressa ruim
De mágoas e de agonias
Chegam sempre ao triste fim
Vidas, minutos e dias.


João Teixeira de Medeiros




"Monólogodo relógio" - poema do dia dito por Fátima Sousa e comentários de Marta Costa e Urbano Bettencourt. Carregado a 21/12/2011.



João Teixeira de Medeiros nasceu em Fall River, no dia 16 de Novembro de 1901, mas com apenas 9 anos idade “emigrou” para a Pedreira do Nordeste, na ilha de São Miguel, acompanhando os pais.
Depois, aos 29 anos, regressou a Fall River, onde era conhecido como “o teixeirinha de Nordeste”.
Fazia quadras sobre os mais variados temas e tem uma poesia popular publicada, depois de ter sido descoberta por Onésimo Almeida, que o ajudou a publicar dois livros: Do tempo e de mim e Ilha em Terra.
O poeta já foi alvo de várias homenagens, quer nos EUA, quer em Nordeste.
Embora residindo nos EUA nunca esqueceu a sua ilha, até morrer, em 25 de Julho de 1995.
Sobre S. Miguel, deixou estas duas quadras:

Se fosses ó ilha bela,
Flor que eu pudesse colher,
Pendurava-te à lapela,
Pra todo o mundo te ver!

Saudade é filha da dor,
Que a triste ausência me deu.
Pai da saudade é o amor,
Escravo dela sou eu.

Diário dos Açores, Ano 146º, Nº 40.701, 2015-06-05






DO TEMPO E DE MIM, João Teixeira de Medeiros
Seleção, organização e prefácio de Onésimo Teotónio Almeida. Gávea-Brown, Providence, Rhode Island, 1982.

Chega-nos da LUSAlândia um apaixonante livro de versos de um açoriano (por direito de cultura), americano (por direito de nascimento e de uma longa vida de trabalho). Aos 82 anos, esse homem nascido em Fall River, Mass., com parte da infância, a adolescência e a juventude passada em S. Miguel, na sua Pedreira do Nordeste, dá-nos um pouco da sua alma, dessa alma portuguesa, para sempre ligada à terra dos seus pais. Porque Teixeira de Medeiros ficou culturalmente sempre nos Açores; só emigrou o homo faber. A aproximação com António Aleixo (e o organizador disso se apercebe) impõe-se logo no primeiro folhear: a preferência pelo nosso género nacional – a quadra –; a satirização do mundo da hipocrisia, onde o falso oiro brilha como o autêntico («Os Neros do séc. XX», «Sátira», «Mentiras»); a evocação dos quadros bucólicos e aldeãos («Guitarra», «Cravo vermelho», «Fada do moinho», «Lavadeira»). E a mulher portuguesa idealizada ou quedada num passado mitificado, numa idade de Oiro situada no S. Miguel dos princípios do século («Mulheres», «A graça do teu olhar», «Feira de Beijos», etc.). E o testemunho do jovem que vê, pela primeira vez, um automóvel na sua aldeia («Satanás em quatro rodas») e acaba, muito portuguesmente, com um prognóstico-participação: «Ouvi meus avós falar / Que antes do mundo acabar, / Deus mandaria sinais… / Vou para casa, vou-me embora, / Rezar a nossa Senhora / E a outras santinhas mais»?
Como escolher, como citar tanto verso que nos toca, a nós portugueses sempre insulares, porque habitantes de um recanto isolado que foi a nossa infância e cujo caminho para sempre perdemos? Só podemos dizer: leiam o pequeno livro que em boa hora, com carinho filial, Onésimo T. Almeida lança a este mundo tantas vezes adverso à poesia, porque ocupado nas «contas da vida».


Graça Silva Dias, "[Recensão crítica a 'Do Tempo e de Mim', de João Teixeira de Medeiros]" in: Revista Colóquio/Letras. Recensões Críticas, n.º 76, Nov. 1983, p. 82. 





Nesta cova onde se vaza
Minha estória até ao fim,
Uma simples pedra rasa
Tanto basta para mim.

O peso já não me assusta,
Já me não inspira medo;
Depois de morto não custa
Uma areia ou um penedo.

Aqui nesta cova jaz
O filho dum português;
O nome ficou atrás,
O corpo foi-se de vez.

Aqui nesta cova jaz
Um velho l(usa)landês
Nesta mesma se desfaz
Quanto foi e quanto fez.

*



O dinheiro é um truão,
Quando se quer divertir,
Arrasta o pobre no chão
E faz o rico subir.

É um demónio, um traidor,
Um rufia, um vendilhão!
Troca ódios, compra amor,
Vende quem lhe der a mão.

*

  
A beleza só é beleza 
Para quem na beleza crê
A beleza é só certeza
Conforma a vista que a vê

João Teixeira de Medeiros





Em memória de João Teixeira de Medeiros
(profeta da simplicidade poética)
(Nov. 16, 1901 – Julho 25, 1995)

Creio que o ser humano-poeta é portador de memórias tecidas pelo tempo no tear da sua existência. Estou a reviver o episódio daquela manhã de Julho de 1995, quando o Sol fizera questão de se “levanta”’ cedo para não falhar a tarefa de aquecer o silencioso chão de St. Patrick’s Cemetery, em Fall River. Já se passaram 20 anos: naquela manhã procurei caminhar (sem trocar o passo) na longa fileira d’Amizade, rumo à “derradeira” morada terrestre do saudoso poeta João Teixeira de Medeiros – ou seja, ficámos bem pertinho do pedaço de chão que iria ser a testemunha silenciosa do sua existência física (1901-1995).
Apesar da provecta idade que tinha quando nos deixou, o seu testemunho poético não receia sugerir que a morte teimou em interromper a sua juventude artístico-emocional. Seja-me permitido recordar a quadra que lhe dediquei aquando da celebração dos seus 90 anos:
Nenhum poeta merece
Ter uma vida esquecida:
Poeta não envelhece
Jamais se cansa da vida…
Sabemos (por experiência própria) que o latejar das ausências nem sempre faz o poeta esquecer a sua condição de “remendo cerzido no pano da utopia”… Confirmo: ainda sinto a falta das nossas frequentes conversas ao telefone (amistosos comentários alusivos ao conteúdo do memorandum). Mais: desde há muito que o carteiro parou de nos brindar com a entrega dos postais cíclicos escritos na linguagem poética afinada pela simplicidade. Jamais esquecerei o convívio proporcionado pelas amigáveis tarefas de chauffeur nas frequentes viagens, de pendor cultural, rumo aos vários centros culturais da Comunidade Luso-Americana, sediados na costa leste dos EUA.
Através da medida exacta das suas quadras, o poeta Teixeira de Medeiros foi capaz de enfrentar o ‘bom-combate’ das ideias, sem usar rimas de agressividade gratuita. Embora não familiarizados (academicamente falando) com a densa doutrina do filósofo canadiano, Marshall Mcluhan, atrevo-me a recordar que, por várias vezes, fomos surpreendidos a citar frases do citado filósofo, como esta, por exemplo: “Segredos! Segredos! Insignificantes segredos só precisam de protecção; grandes Descobertas são protegidas pela incredulidade (e ignorância) pública”.
Alguns episódios que (para muitos) pareciam ‘sinais do fim do mundo’, para o nosso poeta, tais sinais eram apenas o princípio dum Novo mundo! O poeta João Teixeira de Medeiros era apreciador entusiasta das conhecidas frases de sabor anteriano, como por exemplo: “a humanidade é mais ignorante do que má”. De certa feita, o nosso Poeta ficou deveras ‘impressionado’ com a virilidade psico-cultural dos “dizeres” do saudoso filósofo, Agostinho da Silva (falecido há 21 anos), como esta, por exemplo: “… o grande defeito dos intelectuais portugueses tem sido sempre o só lidarem com intelectuais. Vão para o povo. Vejam o povo. Vejam como eles reflectem, como eles gostariam que a vida fosse para eles…”
…/…
Seja-me permitido repetir que, naquela manhã de 25 de Julho (1995), cerca de meia centena de familiares e amig@s caminharam em silêncio pelas alamedas do St. Patrick’s Cemetery. Não houve despedidas: apenas o habitual ‘até mais ver, querido Poeta’! De repente, senti a memória despertada pelo conteúdo duma das cartas arquivadas no arquivo emocional, que regista o seguinte: “… terá o meu bom amigo, após a minha morte, uma pequena lembrança do velhinho que nasceu para ser poeta, mas que não chegou ao topo da escada”…
Está bem visto! Cá temos mais uma quadra do valoroso profeta da simplicidade poética a tentar esconder o tamanho real da sua estatura artística atrás da ‘pequenez’ da silhueta física:
Achar um amigo certo
Neste mundo de alvoroço
É como achar num deserto
Um diamante num poço…

João-Luís de Medeiros, Rancho Mirage, CA
Correio dos Açores, Ano 96, n.º 30691, 2015-07-29.




CARREIRO, José. “João Teixeira de Medeiros (poeta popular)”. Portugal, Folha de Poesia, 05-06-2015. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2015/06/joao-teixeira-de-medeiros-poeta-popular.html


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Eu, que sou feio, sólido, leal (Cesário Verde)



A DÉBIL           






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Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.

Sentado à mesa d'um café devasso1,
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,
Nesta Babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.

E, quando deste esmola a um miserável,
Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável.

“Ela aí vem!” disse eu para os demais;
E pus-me a olhar, vexado2 e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na fresquidão dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada;
E invejava – talvez que o não suspeites! –
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.

Ia passando, a quatro, o patriarca3.
Triste, eu deixei o botequim4, à pressa;
Uma turba5 ruidosa, negra, espessa,
Voltava das exéquias6 d'um monarca.

Adorável! Tu, muito natural,
Seguias a pensar no teu bordado;
Avultava7, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.

Sorriam, nos seus trens, os titulares8;
E ao claro sol, guardava-te, no entanto,
A tua boa mãe, que te ama tanto
Que não te morrerá sem te casares!

Soberbo dia! Impunha-me respeito
A limpidez do teu semblante grego;
E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar sobre o teu peito.

Com elegância e sem ostentação9,
Atravessavas branca, esbelta e fina,
Uma chusma10 de padres de batina,
E d'altos funcionários da nação.

"Mas se a atropela o povo turbulento!
Se fosse, por acaso, ali pisada!"
De repente paraste, embaraçada,
Ao pé d'um numeroso ajuntamento.

E eu, que urdia11 estes fáceis esbocetos12,
Julguei ver, com a vista de poeta,
Uma pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.

E foi, então, que eu, homem varonil13,
Quis dedicar-te a minha pobre vida,
A ti que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.



Cesário Verde, "A débil". In O Livro de Cesário Verde.



____________________
Vocabulário:

1 devasso: libertino; moralmente vergonhoso
2 vexado: envergonhado
3 patriarca: chefe de família
4 botequim: estabelecimento comercial onde se servem cafés e outros; bar
5 turba: magote de gente; multidão
6 exéquias: cerimónias religiosas fúnebres
7 avultava: sobressaía
8 titulares: que tem título de nobreza; que é fidalgo com título
9 ostentação: exibição vaidosa; aparato; pompa
10 chusma: multidão
11 urdia: imaginava
12 esbocetos: pequeno desenho para estudo de obras em ponto grande; esboço
13 varonil: másculo; viril  


Educação Literária

1. Explique se a figura feminina que é descrita no poema se enquadra no espaço da cidade. Justifique a resposta através de citações textuais.

2. Identifique o evento que ocorre na cidade enquanto o sujeito poético descreve a figura feminina.

2.1 Explique se o eu dá importância a este acontecimento, ilustrando a resposta através de transcrições do texto.

2.2 Identifique a possível crítica subjacente à atitude do sujeito poético em relação a este evento.

3. Tendo em conta as conclusões a que chegou na questão 2, explicite o que pensa o eu do espaço citadino, justificando a resposta através de transcrições textuais.

4. Identifique os sentimentos que a figura feminina desperta no sujeito poético.


Chave de correção

1. A figura feminina que é descrita no poema não se enquadra no espaço da cidade, como se pode ver pelo facto de se mostrar «assustada» (v. 2), de ter um vestido simples, de não participar nas «exéquias d[o] monarca» (v. 24), seguindo antes a «pensar no [s]eu bordado» (v. 26) e de revelar inadaptação àquele espaço, ao parar «embaraçada / Ao pé dum numeroso ajuntamento.» (vv. 43-44). Este contraste é expressivamente ilustrado pelo facto de ela se destacar, na sua brancura, no meio de uma multidão negra — o que pode ser entendido como uma metáfora de pureza face à degradação da cidade.

2. O evento que ocorre na cidade enquanto o sujeito poético descreve a figura feminina é o funeral do rei.

2.1.  O sujeito poético não dá importância ao funeral do rei. Fala-se nas «exéquias dum monarca» (v. 24), e a utilização do artigo indefinido mostra que a identificação do rei em causa nem sequer é considerada necessária, o que revela uma profunda indiferença face ao sucedido. No mesmo sentido vai a referência posterior a «[u]ma estátua de rei num pedestal» (v. 28) (sublinhado nosso).

2.2. Sugestão de resposta: A indiferença face ao acontecimento pode ser interpretada como uma consequência do facto de o rei se enquadrar na estrutura decadente da cidade, tal como a «chusma de padres de batina, / E de altos funcionários da nação» (vv. 39-40), que, significativamente, é reduzida a um «bando ameaçador de corvos pretos» (v. 48).

3. O sujeito poético, muito embora esteja parcialmente integrado no espaço citadino, na medida em que se encontra à «mesa dum café devasso» (v. 5), a beber «cálices de absinto» (v. 10), tem perfeita noção da decadência que o mina. É por este motivo que designa a cidade como «Babel […] velha e corruptora» (v. 7), caracterizando depreciativamente os altos funcionários da nação e os elementos do clero como «[u]m bando ameaçador de corvos pretos» (v. 48). Com efeito, sente vontade de proteger a figura feminina deste ambiente degradado («Tive tenções de oferecer-te o braço», v. 8) e, ao vê-la a praticar uma boa ação, procura imediatamente libertar-se da decadência em que mergulhara («Mandei ir a garrafa, porque sinto / Que me tornas prestante, bom, saudável.», vv. 11-12).

4. Esta mulher poderá contribuir para que o sujeito lírico seja redimido, seja salvo da vida decadente em que se afunda, da vida inútil que se vai esgotando no interior dos cafés, de que ele se envergonha, tornando-o «prestante, bom, saudável», algo por que ele suspira. Contudo, no poema, o eu acaba por distanciar a figura feminina utilizando uma tripla adjetivação que encerra, em si, uma antítese («eu que sou feio», tu que «és bela», o que permite concluir que o poeta coloca a mulher numa relação de superioridade em relação a si. No final do poema, esta oposição é retomada (tu que «és ténue, dócil, recolhida», «eu, que sou hábil, prático, viril», embora aqui de maneira mais suave, em resultado da redenção do «eu» do poeta, devido à simples presença desta jovem, que lhe provoca o desejo de mudança.

Gramática

1. Tendo em conta os seus conhecimentos sobre as funções sintáticas, classifique as afirmações que se seguem como verdadeiras ou falsas, corrigindo as falsas.

 Ficha 2 

(A) O constituinte «feio, sólido, leal» (v. 1) desempenha a função sintática de modificador apositivo do nome.

(B) O constituinte «-te» (v. 8) desempenha a função sintática de complemento indireto.

(C) A oração «que bebia cálices de absinto» (v. 10) desempenha a função sintática de modificador restritivo do nome.

(D) O constituinte «Na fresquidão dos linhos matinais» (v. 16) desempenha a função sintática de modificador da frase.

Oralidade

Expressão oral

1. Considere a estrofe final do poema (vv. 49-52):

«E foi, então, que eu, homem varonil,

Quis dedicar-te a minha pobre vida,

A ti, que és ténue, dócil, recolhida,

Eu, que sou hábil, prático, viril.»

 

1.1 Na sua opinião, a imagem do homem e da mulher que é transmitida nesta estrofe ainda se adequa à sociedade contemporânea?

Reflita sobre esta questão e prepare um texto de opinião, de quatro a seis minutos, durante a qual apresente o seu ponto de vista em relação a esta questão. Deverá explicitar com clareza a sua opinião, apresentando, no mínimo, dois argumentos, bem como, pelo menos, um exemplo que ilustre cada um deles.

 Ficha 9

 Ficha 15 

Escrita

1. Considere a seguinte afirmação:

«A nível social, a cidade significa opressão, e o campo a recusa da opressão e a possibilidade do exercício da liberdade.»

Helder Macedo, Nós — Uma Leitura de Cesário Verde, Lisboa, Dom Quixote, 1986.

 

1.1 Partindo da afirmação anterior, redija uma exposição, com um mínimo de cento e trinta (130) e um máximo de cento e setenta (170) palavras, no qual se refira à oposição cidade/campo na poesia de Cesário. Deverá fazer alusões concretas aos poemas estudados. 

Proceda à planificação do texto e, posteriormente, à sua revisão.

 Ficha 9 

 Ficha 14 

Fonte: Entre nós e as palavras - Português 11.º ano. Disponível em: https://www.santillana.pt/files/DNLCNT/Priv/_11811_c.book/270/index.html#/pag/300



Ilustração a partir de «A Débil», de Cesário Verde, por Júlia Gonçalves

Educação Literária II

Responda ao questionário seguinte, justificando sempre as suas afirmações.

1. Identifique o episódio do quotidiano introduzido neste poema.

2. Localize, no espaço e no tempo, este episódio.

3. Releve os elementos que caracterizam o espaço como "corruptor".

4. Refira os elementos que denunciam a perspetiva do "poeta- narrador" perante o observado.

5. Estabeleça os "contrastes" que neste poema são feitos.

6. Destaque os recursos estilísticos que melhor acentuam esses contrastes.

7. Esclareça, tendo em conta a poesia de Cesário, o valor pictórico da oposição "pombinha" e do "bando de corvos".

 

Chave de correção

1. O poeta observa, sentado a uma mesa de café, "A Débil", bela, frágil, assustada, que passa indefesa na rua, enquanto uma multidão, composta por povo anónimo, padres e altos funcionários da nação, forma um "numeroso ajuntamento". Está-se perante uma cerimónia pública.

2. Este episódio desenrola-se numa cidade, numa "Babel tão velha e corruptora", sendo que o poeta se encontra "à mesa de um café devasso", enquanto a "Débil" passa na rua. É um "soberbo dia", de manhã, daí as referências quer à luz do sol- "claro sol"- quer à "frescura "dos linhos matinais" que constituem o vestido da moça.

3. À partida, o poeta define o café em que se encontra como "devasso" onde bebe "absinto" e, ao avistar a "Débil", manda retirar a garrafa; depois, refere-se à cidade como "Babel [...] velha e corruptora". Finalmente, sugere a "proteção da mãe da moça" que a "guardava [...]" e que "não [...] morrerá sem que [a Débil] se case”.

4. O poeta assume uma perspetiva subjetiva e sentimental: desde o início afirma que a rapariga lhe inspira "estima", desejo de proteção ("tenções" de [lhe] oferecer o braço", assim como a sua visão o torna "prestante, saudável" e lhe inspira, "[o seu] semblante grego", desejos castos - "uma família, um ninho de sossego". Todavia, preocupando-se Cesário com o mundo exterior, concreto, objetivo, não resiste à necessidade de pontuar o seu discurso com marcas de um certo realismo pictórico - "A Débil" é "fraca e loura; o vestido que traz, branco e fresco – “a frescura dos linhos matina”, mas também poetiza -"transforma" o que vê numa outra realidade - à mancha branca do vestido associa uma "pombinha", à mancha negra da multidão, "um bando de corvos".

5. O primeiro contraste que se estabelece é entre o próprio poeta e a moça - ele é “feio, sólido, leal", ela, "bela, frágil, assustada", tem "um corpo que pulsa alegre e brando", é "branca, esbelta e fina"; ele é um ''homem varonil [...]/ hábil, prático, viril", ela, ''ténue, dócil, recolhida". Enfim, ele é masculinidade e força, ela, feminilidade e fragilidade.

Depois, entre o espaço - "a Babel velha e corruptora" e a mesma moça se nota um contraste - a cidade corrompe, a moça inspira sentimentos de castidade, de doçura e de estima.

Finalmente, existe um contraste entre a multidão- "o povo turbulento” e a figura feminina que passa serena - "com elegância e sem ostentação", perturbada pela presença da multidão - "paraste embaraçada/ao pé de um numeroso ajuntamento".

6. Para acentuar o contraste entre o poeta e a moça, predomina a tripla-adjetivação - "feio, sólido, leal", "bela, frágil, assustada". Da mesma forma se estabelece o contraste entre a "Débil" e a cidade, ou entre a moça e a multidão. Simbolicamente, o poeta acentua este ú1timo contraste pela oposição "pombinha"/ "bando de corvos"- branco-negro; presa-predador.

7. "Pombinha" e "bando de corvos" são dois símbolos que a "visão transfiguradora" de Cesário - a sua "visão de poeta"- associa ao andar da moça por entre a multidão. Essa associação é feita quer pela cor do vestido da moça, quer pela cor das vestes da "chusma de padres de batina" ou desse "numeroso ajuntamento" por onde ela passa.

Por outro lado, "o povo turbulento" associado ao "corvo" enquanto predador, acentua a imagem de que esta moça é uma presa porque é frágil.

(Escola Secundária Domingos Rebelo, 2000)

***

Educação Literária III 

1. O poeta encontra-se num "café devasso".

1.1. Aponta as influências que a vida citadina exerce sobre o sujeito poético, atendendo à autocaracterização e às características da cidade.

2. O eu lírico tem como destinatário uma figura feminina.

2.1. Identifica o tipo de mulher presente no poema. Justifica a tua resposta.

2.2. Demonstra que ela representa valores opostos aos da cidade.

2.3. Reconhece o Mito de Anteu em Cesário, exemplificando-o com uma citação.

2.4. Com base, sobretudo, na última estrofe, explica como a aproximação poeta/mulher se torna possível.

3. Na 6.ª estrofe, Cesário é o poeta do real e da transfiguração.

3.1. Destaca os elementos que lhes correspondem.

3.2. Identifica a figura de estilo que se encontra ao serviço da transfiguração. Justifica a resposta com citações.

3.2.1. Interpreta a sua expressividade.

(Escola Secundária Domingos Rebelo, 1996)



“Eu, que sou feio, sólido, leal (Cesário Verde)”, José Carreiro. Folha de Poesia, 2015-06-04. Disponível em https://folhadepoesia.blogspot.com/2015/06/a-debil.html


 

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