quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Hora da Poesia - José Carreiro

Na Hora da Poesia (2018-02-14), Conceição Lima, Duarte Luz e Rui Diniz dão voz a poemas de Chuva de Época, de José Maria de Aguiar Carreiro:

Conceição Lima entrevista José Maria de Aguiar Carreiro:



ENTREVISTA

Conceição Lima - Curta biografia. Desde quando a Poesia? A poesia foi fruto de influência de algo ou alguém ou impôs-se? O que o empurra para a escrita poética? Acha que a poesia é inerte ou traz missão? Quais os poetas que poderão ter influenciado os seus gostos na escrita poética?

José Carreiro - Nasci numa freguesia do concelho de Nordeste da ilha de São Miguel.
Aos 15 anos, sem pedir autorização aos meus pais, preenchi a pré-inscrição para o ingresso no ensino secundário na cidade situada na outra ponta da ilha. O meu pai acedeu à determinação e passei a viver durante a semana num quarto alugado em Ponta Delgada, numa casa partilhada. Os fins-de-semana passava-os em família.
Depois veio o ensino superior na Universidade de Lisboa. Conto com uma bolsa de estudo do governo regional e com o apoio possível do meu pai. Poderia cursar na ilha, mas queria ampliar os horizontes.
O Fernando Pessoa estudado no 12.º ano é determinante na descoberta da poesia. Enquanto adolescente, identificava-me com a dualidade interior do poeta.
É no décimo segundo ano que começo a escrever um diário, onde incluía alguns versos entre os derrames e reflexões sobre o dia. Os cadernos foram-se acumulando. Em 1990, já na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, faço uma pequena seleção de poemas, a maior parte abandonada na nova seleção de 1992.
No início dos anos 90, participo, em Lisboa, num I Encontro de Jovens Escritores, promovido pela Sociedade Portuguesa de Autores. Creio que, dos presentes, poucos tinham publicado alguma coisa, talvez uns três ou quatro, se tanto. Nas jornadas deram-nos conselhos, um dos quais foi não termos pressa em publicarmos.
Nesse Encontro, tivemos oportunidade de conviver com alguns autores: lembro-me de jantar com a Natália Correia e de irmos à discoteca com o Al Berto. Belos momentos.
Entretanto, a seleção de 1992 foi sendo ampliada, cortada e recortada, trabalhada até à data da publicação, em 2005, já em Ponta Delgada, para onde fui lecionar após ter terminado o curso.
Quanto a leituras, sou “um sensível e agradecido leitor”, como disse uma vez Jorge Luis Borges.  Outros poetas formaram o meu gosto pela poesia: Camilo Pessanha, Sophia Andresen, Jorge de Sena, Herberto Helder, Joaquim Manuel Magalhães são alguns dos nomes.
Chuva de Época faz parte do pasmo inicial perante a vida.
Move-me para a escrita a estilização do real: uma frase, uma sonoridade, uma pintura, uma escultura, um elemento arquitetónico, uma cena ou uma coreografia, enfim, o mundo mediado pela arte. Por exemplo, uma fotografia de Sebastião Salgado pode funcionar, para mim, como uma arte de desbloqueio.
Aprecio o apontamento caricatural, o alegórico, a metáfora. E o nonsense.
junho de 2017


2018-02-14

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